Começamos por
esclarecer que nenhuma destas potenciais respostas é verdadeira.
Nos primeiros
séculos os trajes estudantis eram marcados pela indumentária religiosa dos
clérigos que tinham o exclusivo de cursar Estudos Gerais. [1]
Geralmente castanhos e mais tardiamente pretos, já que não eram permitidas
cores garridas.[1] Com a abertura da universidade a outras classes
sociais houve uma natural evolução do vestuário, permeável a modas, ainda que
pautado pela sobriedade e austeridade.[1] O uso de um traje pelos
novos estudantes derivou do desejo de não destoar e da necessidade de
identificar o foro académico.
Os trajes
assumiram e assumem uma função de uniforme, permitindo distinguir os estudantes
das restantes profissões.
No século
XVII, era utilizada a loba (espécie de batina eclesiástica sem mangas que chega
até ao chão), calção, capa e barrete redondo ou de cantos. [1]
No século
XVIII, a loba é "substituída" pela abatina (capa + túnica talar,
menos comprida que a dos lentes e mais curta que a capa, mantendo-se o uso dos
calções), a que os estudantes chamavam de batina.[1] A partir desta
altura os trajes começam a convergir para uma forma de traje académico, ainda
permeável a modas.[1] No fim deste século surge o gorro.[1]
No entanto, o traje académico que hoje conhecemos
tem as suas origens na aproximação ao traje
masculino burguês oitocentista que retirou à capa e à batina a sua feição
talar, demarcando-se da similaridade aos trajes religiosos, numa tentativa progressista e anti-clerical
iniciada na década de 80 do séc. XIX.[1] É assim fácil de compreender o porquê de ser incorrecto dizer que
o traje tem uma origem religiosa. O atual figurino da variante masculina
originou-se das transformações implementadas pelos adeptos da Greve Académica
de 1907 (sobrecasaca preta desabotoada, lapelas dobradas em V sobre o peito e
forradas com cetim preto).[1]
De 1834 a 1910, o uso de
capa e batina foi obrigatório no perímetro da Universidade.[1] A
23/10/1910 a obrigatoriedade de uso de traje foi abolida, tornando o seu uso
facultativo.[1][2]
Até agora só falámos do traje masculino... e o feminino? Como é que surgiu?
O traje
feminino foi criado entre 1914 e 1915, nos liceus de Lisboa e do Porto,
respondendo à ausência de uma solução ou invenção por parte das autoridades
académicas e estudantis.[3] A sua criação foi espontânea! Na UC, até
à década de 1940, as mulheres não tinham participação associativa e cultural.[3]
Viviamos numa sociedade paternalista e
muito atrasada em relação aos restantes países europeus.
Aliás, o
modelo actual foi imposto por decreto pelo Magnum Conselho Veteranos da
Academia de Coimbra, por homens, sem que tenha sido consultada a opinião das
mulheres.[3]
“Pouco antes da Queima das Fitas de Maio de 1954, o Magno Conselho de
Veteranos da academia de Coimbra (MCVAC), após decisão exclusivamente masculina,
deliberou impor por "decretus" o tailleur preto à base de casaco
preto curto/saia como traje discente feminino.”[3]
Ademais, originalmente
as meias eram cor de pele, só em 1957 por determinação do MCV da Academia de
Coimbra é que passaram a pretas, como pode ser lido no código de praxe desse
ano.[3]
O traje
feminino começou por se basear numa capa e tailleur pretos, sendo que a saia
cobria o joelho e as meias, quando eram usadas, eram cor de pele.[1][3]
Na altura não usavam gravata.[3] Pode-se concluir que este modelo foi
influenciado pelo uniforme envergado pelos corpos de enfermeiras da marinha dos
EUA e em alguns hospitais europes da época.[3]
Então, mas porque é que a cor é preta? Porque
não vermelha, azul ou castanha?
Esta é uma
boa questão. Já falámos das cores iniciais e da proibição de cores garridas nos
trajes que precederam a criação do traje académico. Podemos perguntar-nos
porque é que a cor não mudou com a aproximação ao traje burguês oitocentista,
mas existem poucas informações disponíveis.
O preto,
enquanto cor da abatina (da qual deriva o termo “batina”), representava o
desapego do sacerdote relativamente à vida mundana.[4] Claro que não
é essa a razão por detrás da cor preta do nosso traje. O preto é uma cor, acima
de tudo, prática. Fica bem em qualquer ocasião e suja menos. [4] É também uma cor que simboliza nobreza,
distinção e elegância[4], talvez seja por isso, aliado ao seu
pragmatismo, que se manteve como a cor de referência.
Quanto à questão do traje tornar todos os
estudantes “iguais”...
O traje surge
como uniforme estudantil. Claro que quando se usa um uniforme há uma
consequência inevitável que é todos parecerem “iguais”. Isto é consequência,
não sendo de todo o objectivo. Aliás, as classes sociais sempre foram passíveis
de ser distinguidas. Os estudantes menos abastados usavam muitas vezes trajes
com piores tecidos ou mais agastados.
O principal
objectivo da institucionalização do traje académico foi o de criar uma
diferenciação do corpo universitário da restante sociedade.[4]
http://notasemelodias.blogspot.com/2007/10/notas-de-cor-sobre-capa-e-batina.html
[4]
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