A Praxe é
recorrentemente apelidada de “ritual de integração”, confundida com o gozo ao
caloiro e definida das mais variadas formas consoante o “Código” de cada
instituição... Mas afinal o que é a
Praxe?
A Praxe Académica
é o conjunto de regras e normas, suportadas
na Tradição Académica, que regem as relações entre os estudantes de uma
academia, entre estes e a comunidade geral em que se inserem[1]. Essas
regras de etiqueta, de protocolo, de
como proceder estando trajado em determinados momentos é o que nós chamamos de
Praxe (Lei Académica).[2]
A Praxe como sinónimo de Lei Académica refere-se às regras e normas que
regem o modus operandi do estudante no exercício da sua cidadania académica, e não às actividades per se.[2] É
ela que dita os limites até onde o gozo ao caloiro pode ir, o protocolo e
procedimento a ter num baptismo, as relações hierárquicas inter-pares, as
protecções, etc.[2] Ao contrário da lei nacional, a Praxe só se aplica aos que a queiram
aceitar (não existe qualquer penalização se a rejeitarem).[1]
Se é verdade que o conceito inicial de Praxe começou por referir-se aos
ritos com caloiros e simultaneamente às regras que os enquadram, transmitida
oralmente, é também verídico que o termo Praxe ganhou uma nova acepção quando
surgiram as primeiras publicações que pretendiam expressar estas normas. [2]
Assim, a maneira de proceder com caloiros, a forma de funcionar das
trupes, as protecções, etc fundiram-se com o conjunto de normas provenientes do
extinto regulamento disciplinar da UC que definia as regras de etiqueta a
observar no uso do traje, as sanções aos estudantes prevaricadores, etc. [2]
Qual é a relação entre a Praxe e o Gozo ao
Caloiro?
É a Praxe que vai legislar o acto e o âmbito do gozo ao caloiro
(vulgarmente apelidado de “praxes”), não
sendo portanto sinónimo destas
actividades. Há que distinguir entre a legislação e as práticas.[2]
Nenhum código pode conter
detalhadamente todas as actividades e situações que se praticam com caloiros
durante o gozo.[2] Deve é
delinear os limites que permitam saber o que se pode ou não fazer e em que
moldes.[2] O mesmo se aplica aos restantes aspectos da vivência do
estudante. Não esquecer que a Praxe é
obrigada a respeitar a lei portuguesa acima de tudo.
Assim sendo, é fácil compreender que não se deve dizer que vamos à Praxe,
mas sim que estamos EM Praxe, e para
isso é necessário estar trajado.[1] Vai-se às actividades
praxísticas, p.ex.
No entanto, é importante notar que “O que se faz DO traje é Praxe, mas o que se faz DE traje não tem
forçosamente de o ser”.[2] Se estiverem num concerto trajados, obviamente que
o concerto não é Praxe.
Então, o Traje é da Praxe?
Não. O Traje
Académico é precisamente académico. É o uniforme estudantil, não pertence à
Praxe,[1] e pode ser usado por todos os alunos do ensino superior,
sem excepção. O direito a trajar não é definido pela Praxe.
A Praxe estabelece
um conjunto de normas sobre como o traje deverá ser usado em determinadas
situações, como numa Serenata ou numa cerimónia solene. [2] Trajar
não significa ter de se filiar em “praxes” ou participar no que seja.[2]
A Serenata, a Queima, as tunas isso é Praxe?
É claro que além de definir os limites do gozo ao caloiro, a Praxe também
vai definir como nos devemos comportar durante a Serenata, p.ex. No entanto, a
Serenata não é Praxe. [3]
Na realidade são manifestações da cultura
estudantil e da Tradição Académica. [4]
A Praxe apenas prescreve e orienta o estudante
no modo de estar e agir nesses eventos. É de Praxe não aplaudir e estar de capa traçada durante a Serenata.[2][4]
Mas o que é a Tradição Académica? É nacional ou cada faculdade tem a
sua?
A Tradição Académica é património nacional,
historicamente transversal a todo o país.[2] É certo que tem uma
matriz coimbrã, no entanto, não pertence exclusivamente a esta cidade. [2]
A tradição é a “pedra basilar”. Tradição não é
aquilo que cada faculdade inventou para si.
Cabe à Praxe traduzir a Tradição Académica e
cabe ao estudante conhecer a Praxis dos diferentes momentos.
Então se a Praxe é a Lei Académica, porque é que a “Praxe” tem data de
início e fim nos códigos? Porque é que fica suspensa em períodos de luto?
Exactamente pela confusão semântica entre Praxe e as “praxes” (na
realidade, gozo ao caloiro), perpetuada pelo código de Coimbra de 1957.
Antigamente, os estudantes só deixavam de trajar durante as férias ou
quando estavam fora de Coimbra, p.ex. [2] Hoje em dia temos tunas
que atuam durante o Verão. Usando o traje seja em que altura for a Praxe
aplica-se, ou seja, as regras de etiqueta deverão ser observadas sempre que
trajam.
A. Nunes UNES, António M. - As Praxes Académicas de Coimbra, Uma
interpelação histórico-antropológica, in blogue "Guitarra
de Coimbra (Parte I)",
artigo de 19 de Novembro de 2005. [3]
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