domingo, 16 de setembro de 2018

Tradição Académica, Praxe e “praxes” – qual a diferença?


 A Praxe é recorrentemente apelidada de “ritual de integração”, confundida com o gozo ao caloiro e definida das mais variadas formas consoante o “Código” de cada instituição... Mas afinal o que é a Praxe?


A Praxe Académica é o conjunto de regras e normas, suportadas na Tradição Académica, que regem as relações entre os estudantes de uma academia, entre estes e a comunidade geral em que se inserem[1]. Essas regras  de etiqueta, de protocolo, de como proceder estando trajado em determinados momentos é o que nós chamamos de Praxe (Lei Académica).[2]

A Praxe como sinónimo de Lei Académica refere-se às regras e normas que regem o modus operandi do estudante no exercício da sua cidadania académica, e não às actividades per se.[2] É ela que dita os limites até onde o gozo ao caloiro pode ir, o protocolo e procedimento a ter num baptismo, as relações hierárquicas inter-pares, as protecções, etc.[2] Ao contrário da lei nacional, a Praxe só se aplica aos que a queiram aceitar (não existe qualquer penalização se a rejeitarem).[1]

Se é verdade que o conceito inicial de Praxe começou por referir-se aos ritos com caloiros e simultaneamente às regras que os enquadram, transmitida oralmente, é também verídico que o termo Praxe ganhou uma nova acepção quando surgiram as primeiras publicações que pretendiam expressar estas normas. [2] Assim, a maneira de proceder com caloiros, a forma de funcionar das trupes, as protecções, etc fundiram-se com o conjunto de normas provenientes do extinto regulamento disciplinar da UC que definia as regras de etiqueta a observar no uso do traje, as sanções aos estudantes prevaricadores, etc. [2]

Qual é a relação entre a Praxe e o Gozo ao Caloiro?


É a Praxe que vai legislar o acto e o âmbito do gozo ao caloiro (vulgarmente apelidado de “praxes”), não sendo portanto sinónimo destas actividades. Há que distinguir entre a legislação e as práticas.[2]

Nenhum código pode conter detalhadamente todas as actividades e situações que se praticam com caloiros durante o gozo.[2] Deve é delinear os limites que permitam saber o que se pode ou não fazer e em que moldes.[2] O mesmo se aplica aos restantes aspectos da vivência do estudante. Não esquecer que a Praxe é obrigada a respeitar a lei portuguesa acima de tudo.

Assim sendo, é fácil compreender que não se deve dizer que vamos à Praxe, mas sim que estamos EM Praxe, e para isso é necessário estar trajado.[1] Vai-se às actividades praxísticas, p.ex.

No entanto, é importante notar que O que se faz DO traje é Praxe, mas o que se faz DE traje não tem forçosamente de o ser”.[2] Se estiverem num concerto trajados, obviamente que o concerto não é Praxe.



Então, o Traje é da Praxe?

Não. O Traje Académico é precisamente académico. É o uniforme estudantil, não pertence à Praxe,[1] e pode ser usado por todos os alunos do ensino superior, sem excepção. O direito a trajar não é definido pela Praxe.

A Praxe estabelece um conjunto de normas sobre como o traje deverá ser usado em determinadas situações, como numa Serenata ou numa cerimónia solene. [2] Trajar não significa ter de se filiar em “praxes” ou participar no que seja.[2]


A Serenata, a Queima, as tunas isso é Praxe?
É claro que além de definir os limites do gozo ao caloiro, a Praxe também vai definir como nos devemos comportar durante a Serenata, p.ex. No entanto, a Serenata não é Praxe. [3]
Na realidade são manifestações da cultura estudantil e da Tradição Académica. [4]
A Praxe apenas prescreve e orienta o estudante no modo de estar e agir nesses eventos. É de Praxe não aplaudir e estar de capa traçada durante a Serenata.[2][4]



Mas o que é a Tradição Académica? É nacional ou cada faculdade tem a sua?


A Tradição Académica é património nacional, historicamente transversal a todo o país.[2] É certo que tem uma matriz coimbrã, no entanto, não pertence exclusivamente a esta cidade. [2]

A tradição é a “pedra basilar”. Tradição não é aquilo que cada faculdade inventou para si.

Cabe à Praxe traduzir a Tradição Académica e cabe ao estudante conhecer a Praxis dos diferentes momentos.



Então se a Praxe é a Lei Académica, porque é que a “Praxe” tem data de início e fim nos códigos? Porque é que fica suspensa em períodos de luto?


Exactamente pela confusão semântica entre Praxe e as “praxes” (na realidade, gozo ao caloiro), perpetuada pelo código de Coimbra de 1957.

Antigamente, os estudantes só deixavam de trajar durante as férias ou quando estavam fora de Coimbra, p.ex. [2] Hoje em dia temos tunas que atuam durante o Verão. Usando o traje seja em que altura for a Praxe aplica-se, ou seja, as regras de etiqueta deverão ser observadas sempre que trajam.





A. Nunes UNES, António M. - As Praxes Académicas de Coimbra, Uma interpelação histórico-antropológica, in blogue "Guitarra de Coimbra (Parte I)", artigo de 19 de Novembro de 2005. [3]







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