domingo, 16 de setembro de 2018

O que significa ser Anti-Praxe?


A designação de anti-praxe serve, em diversas instituições de ensino superior, para designar os caloiros que não querem participar no gozo ao caloiro. Mas fará sentido apelidar de anti-praxe quem rejeita ser praxado? Afinal, o que é ser anti-praxe?


Como explicado no artigo sobre a Praxe e Tradição Académica, a Praxe é a Lei Académica, ou seja, um conjunto de regras e normas que, entre muitas outras coisas, regulam  o gozo ao caloiro (também regula outros aspectos – vede o artigo mencionado). Também já foi dito que a Praxe e o gozo ao caloiro, apelidado vulgarmente de “praxes”, não são a mesma coisa.

Recusar participar no gozo ao caloiro e ser praxado não é o mesmo que recusar a Praxe.

A título de exemplo, alguém que não queira ser praxado pode continuar a observar as regras de etiqueta quando traja (regras que são da esfera da Praxe). Por exemplo, pode ir à Serenata e estar de capa traçada.

Ser anti-praxe significa rejeitar a Praxe, por completo. Ser contra as actividades desenvolvidas no gozo ao caloiro não é ser contra a Praxe! 

Posso ser proibido de trajar e de participar na Queima ou na Serenata se não for praxado?

Não. Nenhum organismo de Praxe tem o poder de impedir alguém de trajar.[1] O traje académico é um direito de todos os estudantes do ensino superior, sem excepção, seja de que ano for.

Os organismos de Praxe devem orientar e zelar pelo seu correcto uso, aconselhando e corrigindo algum erro no uso do traje,[1] mas não podem fazer muito mais que isso. O Traje é o uniforme estudantil, não é da Praxe nem das “praxes”.

De igual modo, a Serenata e a Queima também não são Praxe (como explicado no artigo anterior). São manifestações da Tradição Académica[2] e da cultura estudantil abertas a todos os estudantes do ensino superior, sem excepção. Não são do domínio de organismos praxísticos.

Se não for praxado não me conseguirei integrar?

Nem a Praxe nem o gozo ao caloiro são integração.

As actividades praxísticas podem ter o efeito indirecto de ajudar a integrar, mas não é esse o seu objectivo. Exemplificando, ir às aulas permite-nos conhecer colegas. No entanto, conhecer colegas não é o objectivo das aulas, que é aprender. A integração é algo que ocorre naturalmente quando participamos em qualquer actividade com outras pessoas.

A participação no gozo ao caloiro não garante que façam amigos facilmente, assim como não participar também não garante que não façam amizades.  Passaram no minímo 17/18 anos a fazer amigos sozinhos, sem ser preciso serem praxados.

Anti-abusos

Gostavamos de reforçar que a Praxe deve obedecer à lei Portuguesa. Deste modo, qualquer abuso cometido sobre o âmbito da Praxe, não respeita a Praxe. Dizer que não é Praxe não desculpa nada nem isenta qualquer acto.[3] Abusos e humilhações realizados no âmbito das “praxes” não respeitam a Praxe, nem a lei portuguesa, acabando por levar a que a Praxe seja “culpada” pelas más práticas e desrespeito de que é alvo.

O que podemos esperar da opinião pública quando temos “códigos de praxe” que se apropriam da Praxe para promover práticas vergonhosas e desrespeitosas que em nada são Praxe? E quando promovem o roubo ou humilhação?[3]

Deixamos aberto a reflexão.



Sem comentários:

Enviar um comentário